Os ataques a bancos alcançaram 1.693 ocorrências em todo país no primeiro semestre de 2014, uma média assustadora de nove casos por dia, o que representa um crescimento de 9,1% em relação ao mesmo período do ano passado. Desses, 403 foram assaltos (inclusive com sequestro de bancários e vigilantes), consumados ou não, e 1.290 arrombamentos de agências, postos de atendimento e caixas eletrônicos. No primeiro semestre de 2013, foram registrados 1.552 ataques, sendo 433 assaltos e 1.119 arrombamentos.
Os dados são da 7ª Pesquisa Nacional de Ataques a Bancos, elaborada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV) e Federação dos Vigilantes do Paraná (Fetravisp), com apoio técnico do Dieese, a partir de notícias da imprensa, estatísticas disponíveis de secretarias de segurança pública dos estados e informações de sindicatos e federações de vigilantes e bancários de todo o país. O presidente do SVNIT, Cláudio Vigilante, participou do lançamento nesta segunda-feira (25) em São Paulo.
O levantamento contou com apoio do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região, Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região e da Fetec-CUT/PR. O número de casos certamente foi ainda maior devido à dificuldade de levantar informações em alguns estados e pelo fato de que muitas ocorrências não são divulgadas pela imprensa nem registradas pelos bancos.
A pesquisa foi lançada nesta segunda-feira (25), na sede da Contraf-CUT, em São Paulo, com a presença de dirigentes das entidades e do Dieese.
São Paulo é o estado que mais uma vez lidera o ranking, com 403 ataques. Em segundo lugar aparece de novo Minas Gerais, com 236, em terceiro o Paraná, com 182, em quarto o Rio Grande do Sul, com 125, e em quinto a Bahia, com 120.
A região Sudeste segue com o maior número de ataques (691), seguida do Nordeste (454), Sul (392), Norte (84) e Centro-Oeste (72).
Bancários e vigilantes cobram medidas de prevenção
A CNTV, a Contraf-CUT e a Fetravisp irão encaminhar cópia da pesquisa para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e para a Polícia Federal, reiterando a necessidade de discutir medidas para prevenir ataques a bancos e proteger a vida das pessoas.
"Cobramos providências das autoridades para evitar mortes e reduzir os ataques a bancos, que ocorrem, sobretudo, por negligência dos bancos, uma vez de que eles preferem fazer a gestão do lucro em detrimento da proteção da vida de trabalhadores e clientes", afirma o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro.
"Esperamos que esses dados mostrem aos bancos a importância de apresentar propostas de segurança na mesa de negociações da Campanha Nacional dos Bancários 2014, que ocorre nesta quarta e quinta-feira, dias 27 e 28, em São Paulo", completa o dirigente da Contraf-CUT.
"Exigimos também a responsabilização civil e criminal dos executivos dos bancos e das empresas de segurança, que são responsáveis pela insegurança nas agências e postos de atendimento, pois essa situação de mortes e ataques não pode ser banalizada, mas precisa ser enfrentada com ações concretas que coloquem a vida das pessoas em primeiro lugar", reforça o presidente da CNTV, José Boaventura Santos.
"Os bancos não podem continuar tratando os arrombamentos como problema de segurança pública, uma vez que acontecem por causa das instalações vulneráveis de seus estabelecimentos e dos locais inseguros onde se encontram os caixas eletrônicos", salienta Boaventura.
"Esses dados são muito importantes para o debate com os bancos, as empresas de segurança e a sociedade, bem como para a construção com avanços do projeto de lei de estatuto de segurança privada, que se encontra em elaboração no Ministério da Justiça, para atualizar a lei federal nº 7.102/83", destaca o presidente da Fetravisp, João Soares.
"O aumento de ataques a bancos, principalmente arrombamentos, no primeiro semestre deste ano, tem a ver com a onda de explosões de caixas eletrônicos, muitos instalados em locais inseguros e desprovidos de equipamentos de segurança", explica João Soares. "O Exército precisa melhorar a fiscalização e o controle de transporte, armazenagem e comércio de dinamite", defende.
Escassez de investimentos dos bancos
Conforme estudo feito pelo Dieese, com base nos balanços publicados do primeiro semestre de 2014, os cinco maiores bancos (Itaú, Bradesco, BB, Caixa e Santander) lucraram R$ 28,3 bilhões e aplicaram R$ 2,4 bilhões em despesas com segurança e vigilância, o que representa uma média de 8,6% na comparação entre os lucros e os gastos com segurança.
"Os bancos falam que estão preocupados com a segurança, mas gastam muito pouco diante de seus lucros estratosféricos", salienta o secretário de Imprensa da Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária, Ademir Wiederkehr.
"Está na hora de os bancos passarem a olhar as despesas de segurança e vigilância como investimentos, ao invés de custos que podem ser reduzidos. A proteção da vida das pessoas não pode ficar no discurso. Precisamos de medidas concretas de prevenção, pois a vida é o patrimônio mais valioso que existe na face da terra", ressalta Ademir.
Número de assaltos é o dobro da estatística da Febraban
O número de assaltos da pesquisa é 2,16 vezes maior que a estatística nacional de assaltos da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Enquanto a pesquisa da Contraf-CUT, CNTV e Fetravisp aponta 403 ocorrências no primeiro semestre deste ano, a Febraban apurou 186 no mesmo período, uma diferença de 217 casos.
"A Febraban deveria refazer as contas, pois é uma grande diferença. Pode ser que existam agências e postos que não providenciaram a emissão do Boletim de Ocorrência (BO) na polícia, apesar da obrigatoriedade prevista na cláusula 31ª da convenção coletiva dos bancários", alerta Carlos Cordeiro.
"Queremos que os bancos enviem uma cópia do BO para a Cipa, o sindicato local e a Contraf-CUT, a fim de que possamos fiscalizar o registro dos ataques", reivindica o presidente da Contraf-CUT.
"Lamentamos que a Febraban não divulgue estatística dos arrombamentos. Esses crimes revelam que as instalações dos estabelecimentos são frágeis e, por isso, geram medo e insegurança, sendo que várias vezes os ataques provocam tiroteios e até mortes de policiais e transeuntes", destaca Boaventura.
32 mortes em assaltos envolvendo bancos no 1º semestre
Outro diagnóstico da violência nos bancos é a recente pesquisa nacional sobre mortes em assaltos envolvendo bancos, elaborada pela Contraf-CUT e CNTV a partir de notícias da imprensa, com apoio técnico do Dieese.
No primeiro semestre de 2014, o levantamento apurou a ocorrência de 32 assassinatos, média de cinco vítimas fatais por mês, um aumento de 6,7% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registradas 30 mortes.
São Paulo é o estado que liderou novamente a pesquisa com 12 mortes, o que representa 38,7% dos casos. Rio de Janeiro (4), Pernambuco (3), Minas Gerais (2), Paraná (2), Goiás (2) e Paraíba (2) são os estados que vêm em seguida.
O crime da "saidinha de banco" aumentou ainda mais a liderança entre os tipos de ocorrências, tendo provocado 20 mortes, o que representa 62,5% dos casos. O assalto a correspondentes bancários segue em segundo lugar, agora ao lado dos ataques a caixas eletrônicos, ambos com 4 mortes, o que significa 12,5% das vítimas fatais. Depois, vem mortes em assaltos a agências (3) e transporte de valores (1).
Assim como cresceram as mortes em "saidinha de banco", aumentaram também os clientes como as maiores vítimas. Do total, 22 pessoas eram clientes, o que significa 68,8% dos assassinatos. Em seguida vêm policiais (2), vigilante (1) e outras pessoas (7), muitas vítimas de balas perdidas em tiroteios.
"Os bancos gastam milhões de reais em marketing para tentar melhorar a sua imagem e a estética das agências, mas não se preocupam com as pessoas que estão morrendo em assaltos envolvendo bancos, o que é inaceitável. O setor mais lucrativo do país está devendo contrapartidas sociais para a sociedade brasileira", critica João Soares.
Multas da Polícia Federal provam que bancos descumprem legislação
O descaso dos bancos é ainda mais evidente diante das multas aplicadas pela Polícia Federal nas reuniões da Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada (CCASP) da Polícia Federal (PF).
No primeiro semestre deste ano, os bancos foram multados em R$ 5,585 milhões por descumprimento da lei federal 7.102/83 e de normas de segurança. As principais infrações dos bancos foram a ausência de plano de segurança aprovado pela PF, número insuficiente de vigilantes, alarme inoperante e utilização de bancários para transporte de valores, dentre outras irregularidades.
Propostas dos vigilantes e bancários para garantir segurança
- Porta giratória com detector de metais antes da sala de autoatendimento com recuo em relação à calçada, onde deve ser colocado um guarda-volumes com espaços chaveados e individualizados;
- Vidros blindados nas fachadas;
- Câmeras de vídeo em todos os espaços de circulação de clientes, bem como nas calçadas e áreas de estacionamento, com monitoramento em tempo real e com imagens de boa qualidade para auxiliar na identificação de suspeitos;
- Biombos ou tapumes entre a fila de espera e a bateria de caixas;
- Divisórias individualizadas entre os caixas, inclusive os eletrônicos;
- Cumprimento do plano de segurança de cada estabelecimento, conforme prevê a lei nº 7.102/83, garantindo a presença de no mínimo dois vigilantes, enquanto houver bancários e clientes em agências e postos de atendimento;
- Fim da guarda das chaves de cofres e das unidades por bancários e vigilantes, ficando as chaves na sede das empresas de segurança, ou então abertura e fechamento por controle remoto;
- Proibição do transporte de valores por bancários; operações de embarque e desembarque de carros fortes somente em locais exclusivos e seguros; e fim do manuseio e contagem de numerário por vigilantes no abastecimento de caixas eletrônicos;
- Atendimento médico e psicológico para trabalhadores e clientes vítimas de assaltos, sequestros e extorsões;
- Escudos e assentos no interior das agências e postos de atendimento para os vigilantes;
- Instalação de caixas eletrônicos somente em locais seguros;
- Maior controle e fiscalização do Exército no transporte, armazenagem e comércio de explosivos;
- Isenção das tarifas de transferência de recursos (DOC, TED) para reduzir a circulação de dinheiro, a fim de combater o crime da "saidinha de banco".
Fonte: Contraf-CUT com CNTV, Fetravisp e Dieese
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